segunda-feira, 25 de outubro de 2010

CHORO DE DERROTADO

domingo, 24 de outubro de 2010
Choro de derrotado
Por JM Cunha Santos

Durante 50 anos, eu vi crianças morrerem de inanição, vi lideranças de sindicatos rurais amordaçadas, humilhadas, torturadas, assassinadas. Vi gente em pedaços nas filas de hospitais, escolas caindo, analfabetos votando e chorei.

Chorei quando expulsaram lavradores, quando as mulheres pariram nos taxis e nas vans, quando o Maranhão foi vendido à especulação imobiliária, quando líderes do PT foram presos e perseguidos, quando o êxodo rural inchou as cidades, eu também chorei.

Durante quase 50 anos eu vi ladrões de gravatas freqüentando teatros, vi o dinheiro do povo perdido nos cassinos de Las Vegas, vi a juventude prostituída, drogada, abandonada, sem esperanças e chorei.

Chorei quando o Estado se apropriou da cultura popular e transformou em curral eleitoral, quando compraram as associações de moradores e corromperam os movimentos sociais, quando faltou emprego para os pais de família, eu também chorei.

Durante quase 50 anos eu vi o nome da corrupção inscrito nas instituições públicas, vi o dinheiro do povo transformado em mansões, vi operários transformados em assaltantes deles mesmos. Vi filhos e filhas do Maranhão não tendo meios de sobreviver. Eu vi, e vendo, chorei.

Chorei quando compraram os partidos políticos, quando invadiram as igrejas e os terreiros de umbanda, quando corromperam santos e demônios com cargos, títulos e dinheiro público. Quando compraram lideranças da oposição, eu também chorei.

Durante quase 50 anos eu vi instituições públicas sendo avacalhadas, vi a Justiça decidindo a favor de crimes contra o patrimônio público, o Poder Legislativo acocorado, assediado, acovardado. Vi professores mal pagos, tribunais aprovando contas e descontos, vi votando gente que não tem onde morar, nem onde trabalhar. Eu vi e, vendo, chorei.

Chorei quando tive consciência da primeira fraude eleitoral, quando soube da segunda e da terceira, quando tomaram na marra o primeiro mandato de um governador eleito pela oposição, quando “venderam” o Banco do Estado para cobrir rombos, “venderam” a Cemar e o povo passou a pagar a conta de energia elétrica mais cara do mundo, eu também chorei. Principalmente quando vi aquelas cédulas todas no escritório da Lunus e o dinheiro público sendo desovado no Convento das Mercês e nas rodas de Pif, eu chorei.

Durante quase 50 anos eu ouvi promessas de muitos empregos, muitos hospitais, muitas escolas, de uma vida melhor que nunca veio e também chorei.

Chorei, presidente Lula, quando vi Vossa Excelência intervir na decisão do PT para beneficiar a monarquia Sarney. Quando, presidente, Vossa Excelência pediu votos para presidiários no Amapá, foragidos da Justiça no Tocantins e procurados pela polícia no Maranhão, eu não chorei mais. Pois vi que era hora de pegar em “armas”, lutar em defesa do meu Estado e salvar da corrupção o meu país.